quinta-feira, 9 de junho de 2016

Junho. Olimpíadas no Rio. Manchete internacional.
Cubro o rosto de vergonha. Ponho um lenço para me afrancesar. Eu não tenho culpa, nem o que me desculpar.
Algumas modalidades foram adaptadas. Não por mim, que fique claro. Lá foram elas: salto em buraco tomaram lugar do salto em distância, maratona contra arrastão, nado em esgoto, ciclismo na ponte levadiça, pelada dos sete anões.
Eu poderia jurar de pé junto que a Al Qaeda recrutou todos os Aedes aegyptis  da face da Terra, mas eles nem precisaram fazer o esforço. Daqui a pouco por si só a zika domina a Europa.
Antes que todos saiam ictéricos na Lagoa, eu fujo. Já arrumei meu passaporte para as Maldivas. Caetano diz para eu ficar odara, mas não estou muito confortável com essa situação.
Rodei a cidade inteira para me esconder antes da viagem. Tropecei num buraco na pista e ironicamente chamei toda a atenção. Pedalei umas três vezes antes de me espatifar na Santa Clara. Acudiram-me todos os transeuntes. Chorei por medo de sabotarem meu plano.
Não demorou muito para uma senhora cair na mesma cilada e desviar para ela todos os olhares que pousavam em mim. Tomei coragem. Respirei fundo e tomei a reta da praia. Me esgueirei para pegar a tinta do homem de lata performista que estava na orla. Corri o mais rápido que pude. Entrando numa rua sem saída, pintei-me de cobre. Até meus cabelos levaram uma demão.
Esperei escurecer e no meio das prostitutas e travestis, eu já não chamava atenção.

Decidi ficar! Sentei-me com Drummond, engessando uma pose para os próximos dias e até agora estou esperando junho acabar.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Quarta feira. A imprensa conta os dias para o resultado dos votos.
Impeachment. Pode? Não pode? Golpe? Não golpe?
A dúvida reina. De um lado estrelas comem mortadela, do outro coxinhas. Uma miscelânea gastronômica zero estrelas no Michelan.
Um voto é agora como uma pena de morte. Um duelo se fez em silencio. A arquitetura do planalto foi planejada toda em teto de vidro, cuja as pedras são ditas.
Se eu levantar a voz, posso não acordar amanhã. Se eu ficar quieta pode ser minha candidatura de inocência. Eleição após eleição foi um jogo em silêncio. Sorriso no palanque, dinheiro escondido na cueca. As feministas quiseram protestar. O FEMEN veio com tudo. Não demorou muito e lá veio dinheiro na calcinha.
Uma distração, já estão na minha janela. Devia ter pensado nisso antes. Os desempregados estão com tempo livre, e agora são muitos. Não posso virar a próxima capa.  As olheiras não enganam, denunciam o diazepan barato que não fez efeito. Escondo meus dentes na boca.
Faltei as aulas. Confesso comprei meu diploma. Fidel era meu amigo, quebrou meu galho. Pronto falei. Me esmerei nos discursos, mas dizem por aí que pareço uma transloucada. Os que não ouviam agora escutam.
Quando anunciaram o Lava-Jato achei que era uma utilidade pública para lavar os carros executivos. Ledo enganam. Agora perco o sono e grito para as paredes me darem razão.
Estou triste. Não posso mais sair do país. Me convidaram para uma festa hi society, mas a dança das cadeiras ficou séria e agora eu não posso correr o risco de temer. Todo mundo quer puxar minha cadeira e eu preciso fingir que não sei porquê.


Um complô se formou por debaixo dos processos. Ataram minhas mãos. Digo isso, logo afirmam que não posso. Nomeei meu cachorro de Cerveró, disseram que é ilegal. Desapropriaram meus superpoderes presidenciais, nem ministro eu escolho. A criptonita deve estar mesmo estocada na Polícia Federal.