Segurou os olhos com força. Não podia acompanha-lo, caso o
fizesse ficaria claramente constrangida. Esse era o seu problema; uma vergonha
sem pudores que não lhe abria exceções. Era só falar em público que as mãos
pareciam derreter, frias como recém falecidos e os olhos afundavam em olheiras
sem fundo.
Precisava de um tratamento violento, com aparições no palco,
dedicações ao microfone. Era isso, ou o silêncio quando ele enfim se
aproximasse. Não podia perder essa chance quando ela chegasse.
Cumpri minha palavra, gritei seu nome logo na entrada, para
que soubessem quem era ela. Ela começou a nutrir certa intolerância, mas depois
me agradeceria, quando curada desse mau comportamento.
Deixei cair o prato no refeitório para que todos os olhos se
projetassem nela. E a fiz gostar pouco a pouco da plateia. Ficava cada vez
menos vermelho o rosto, um rosa escuro, talvez. Visivelmente o tratamento
começou a fazer efeito.
Não acompanhava mais o aspirante a médico. Passou a
acompanhar o que lhe passasse a vista, moreno ou loiro.
Foi assim que a curei da timidez severa, com holofotes, gritaria e com eficácia garantida.