Arrumava o santo. Dava-lhe presentes até. Colocava uma santa
por perto para que pudesse se distrair imaginando o que existe debaixo de todo
o manto.
Santo Antônio não cooperava. Aliás, fazia hora extra. Um
exemplar funcionário divino que não concede apenas uma graça, mas muitas
desgraças pelo caminho.
Já havia trocado de chip três vezes ao menos para afugentar
os pretendentes que deixavam o celular inquieto. É que seus ex- amores
anunciavam seus dotes como em uma leilão de vacas, dando medidas e adjetivos
que nem Camões poderia supor. Nem era tão bonita.
Relatavam em superlativo os risotos, as tortas de maçã.
Descreviam cremes a derramar da taça. Nunca contaram a verdade sobre o arroz
queimado ou a regra do assopro dos cinco segundos. Dessa maneira, faziam
propagandas enganosas para encorajar desesperados que almejam casar e procriar.
Ontem, apelara para o horóscopo. Não poderia ser verdade!
Sem cortar palavra dizia que o amor bateria à porta. Isso era óbvio! O amor já
havia batido na porta tantas outras ocasiões. O equívoco estava em querer tudo
ao contrário.
Almejava a solidão. O choro guloso que engole um pote de
sorvete pela rejeição. Em contrapartida, em incurável procura havia lhe tirado
a fome. Emagrecia a olhos vistos, cabendo nos menores vestidos para o deliciar
masculino.
Por ser extremamente obsessivo, descartava a hipótese de se
vestir desleixadamente com medo de atrair o outro time e por consequência
aumentar o problema.
Queria ficar só. Solita. E andar anonimamente sem que um
pretendente lhe lançasse uma cantada puída.
Depois de muito esforço, inevitavelmente foi de encontro ao matrimônio para fugir
das perseguições. Não bastara isso, teve também três filhos. Após tanta
humilhação prometeu nunca mais fazer o buço e ir de burca aos comícios do
Femmen para calar os seios desnudos que provocavam o sexo oposto.