segunda-feira, 25 de março de 2013

Avançava com o carrinho em uma corrida que cortava os corredores do mercado. Esbarrava cinicamente no que se movia para se desculpar com candura. Os cabelos brancos permitiam-lhe tal atrevimento, justificando a ousadia.

Tudo era pensado na razão social. A solidão não cabia na própria sala ou na novela. O contato humano era necessário mesmo que premeditato como um crime. Roubar um toque era um vício sem preconceitos. Quando uma criança alinhava-se em sua direção os olhos demonstravam espasmos e a mão escorregava o suficiente para alcançar os cabelos.

A fila somente crescia, chegando até o setor de laticínios. Logo algum tranco roubava uma franca reclamação.

Enquanto os rápidos caixas demoravam, iniciava-se uma conversa doentia. Dores, artrites, lordoses, gases e lactobacilos vivos davam o tom escatologicamente engraçado à conversa.

O carrinho quase vazio anunciava o pretexto para voltar no outro dia para arrancar qualquer palavra que abafasse seu silêncio corriqueiro. A mesma conversa à espera dos caixas rápidos sempre demorados.

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