Junho. Olimpíadas no Rio. Manchete internacional.
Cubro o rosto de vergonha. Ponho um lenço para me
afrancesar. Eu não tenho culpa, nem o que me desculpar.
Algumas modalidades foram adaptadas. Não por mim, que fique
claro. Lá foram elas: salto em buraco tomaram lugar do salto em distância,
maratona contra arrastão, nado em esgoto, ciclismo na ponte levadiça, pelada
dos sete anões.
Eu poderia jurar de pé junto que a Al Qaeda recrutou todos
os Aedes aegyptis da face da Terra, mas eles
nem precisaram fazer o esforço. Daqui a pouco por si só a zika domina a Europa.
Antes que todos saiam ictéricos na Lagoa, eu fujo. Já
arrumei meu passaporte para as Maldivas. Caetano diz para eu ficar odara, mas
não estou muito confortável com essa situação.
Rodei a cidade inteira para me esconder antes da viagem. Tropecei
num buraco na pista e ironicamente chamei toda a atenção. Pedalei umas três
vezes antes de me espatifar na Santa Clara. Acudiram-me todos os transeuntes.
Chorei por medo de sabotarem meu plano.
Não demorou muito para uma senhora cair na mesma cilada e
desviar para ela todos os olhares que pousavam em mim. Tomei coragem. Respirei
fundo e tomei a reta da praia. Me esgueirei para pegar a tinta do homem de lata
performista que estava na orla. Corri o mais rápido que pude. Entrando numa rua
sem saída, pintei-me de cobre. Até meus cabelos levaram uma demão.
Esperei escurecer e no meio das prostitutas e travestis, eu
já não chamava atenção.
Decidi ficar! Sentei-me com Drummond, engessando uma pose
para os próximos dias e até agora estou esperando junho acabar.