Nando Reis que me perdoe, mas o
mundo não é bom para todos, Sebastião. Há guerras na esquina de casa. Ouço os
disparos sem conseguir ver rosto algum enquanto as notícias denunciam que os atentados
estão em outra direção.
Vi de perto o desespero, a fome,
o descaso. No surto e apenas uma cebola enfeitando a geladeira enquanto a faca
ameaça tocar o pulso e acabar de vez com o pouco que resta. Aquele menino trocando
de roupa como se o papelão fosse um cômodo em plena Carioca ainda me dá vontade
de gritar. De comer palavras de vergonha por permitir a infância viver aquilo.
Por muitas vezes olho ao redor,
buscando um olhar cruzar o meu. Só eu vejo o que vejo? Nos muros busco
respostas em desenhos sem autoria. Alguma coisa acontece ao redor, algo que
ainda busco explicação, por isso gosto de mudar o caminho, costurando entre uma
rua e outra.
Feri meus olhos. Calei-me frente
a diversas injustiças. Dei bom dia a meia dúzia de bandidos armados. Tomei café
com uma arma debaixo da cama, conversando sobre assuntos levianos. Observo.
Apenas aprendo, olhando de outro ângulo.
O pôr do sol nasce mesmo em dias nublados,
ele apenas se esconde, como quando o despertador toca e você não quer acordar,
mas a vida te obriga a andar para frente. Pedala, navega e transita. Conhece a
cidade como nunca viu. Conhece a ti mesmo onde nunca percorreu.
Trezentos e sessenta e cinco dias
por extenso, explicam muitas histórias. O tempo alterna meias maratonas que ultrapassam
domingos e domingos. Muitas vezes perdida nos dias da semana, planejo o ano
seguinte. Com lupas que ampliam os detalhes continuo contemplando alegrias e
desgraças que se misturam construindo os retalhos que juntamos ano a ano.