terça-feira, 26 de março de 2013

Sobravam-lhe conselhos. Dos mais diversos possíveis. Dormia com eles a dar marteladas de madrugada. Infalivelmente acordava sem solução.

Arrumava o santo. Dava-lhe presentes até. Colocava uma santa por perto para que pudesse se distrair imaginando o que existe debaixo de todo o manto.

Santo Antônio não cooperava. Aliás, fazia hora extra. Um exemplar funcionário divino que não concede apenas uma graça, mas muitas desgraças pelo caminho.

Já havia trocado de chip três vezes ao menos para afugentar os pretendentes que deixavam o celular inquieto. É que seus ex- amores anunciavam seus dotes como em uma leilão de vacas, dando medidas e adjetivos que nem Camões poderia supor. Nem era tão bonita.

Relatavam em superlativo os risotos, as tortas de maçã. Descreviam cremes a derramar da taça. Nunca contaram a verdade sobre o arroz queimado ou a regra do assopro dos cinco segundos. Dessa maneira, faziam propagandas enganosas para encorajar desesperados que almejam casar e procriar.
Ontem, apelara para o horóscopo. Não poderia ser verdade! Sem cortar palavra dizia que o amor bateria à porta. Isso era óbvio! O amor já havia batido na porta tantas outras ocasiões. O equívoco estava em querer tudo ao contrário.

Almejava a solidão. O choro guloso que engole um pote de sorvete pela rejeição. Em contrapartida, em incurável procura havia lhe tirado a fome. Emagrecia a olhos vistos, cabendo nos menores vestidos para o deliciar masculino.

Por ser extremamente obsessivo, descartava a hipótese de se vestir desleixadamente com medo de atrair o outro time e por consequência aumentar o problema.

Queria ficar só. Solita. E andar anonimamente sem que um pretendente lhe lançasse uma cantada puída.

Depois de muito esforço, inevitavelmente foi de encontro ao matrimônio para fugir das perseguições. Não bastara isso, teve também três filhos. Após tanta humilhação prometeu nunca mais fazer o buço e ir de burca aos comícios do Femmen para calar os seios desnudos que provocavam o sexo oposto.

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