quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Enquanto todos rezavam junto a cama de mãos dadas e olhos cerrados, eu espiava com um olho só as possíveis reações de um corpo estático. Fechava os olhos quando percebia que alguém mais os abria, fazendo uma cara imaculada e santa.

Lagrimas escorriam pelos rostos. Sentia-me estranha por não ser sensível a validade da vida.

Nos momentos sozinhos, acompanhava-me a lembrança e esta ainda era viva. Bancos no fogão, histórias entre seis bocas mudas.

Lembro com graça de seis pés balançando sem conseguir tocar o chão, esperando a refeição quente. Hoje sempre almoço desacompanhada, hoje fica difícil encaixar minhas pernas de baixo da mesa.

Existem fatos que o tempo não rouba, mesmo assim acordo cedo todos os dias para dizer que eu fui a primeira a ver o sol brilhar ou mesmo a primeira sentir os primeiros pingos de chuva, pondo os dedos para fora da janela. Não me incomodo com as olheiras que este vício me causa, eu gosto de saber que estou viva, com dez ou oitenta anos.

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