segunda-feira, 3 de março de 2008

Era como se aquela risada invadisse meus ouvidos e fosse me consumindo; amolecendo-me. Aquele tom ritmado fazia meu coração mais humano, adormecia meus temores, minha raiva.

Eu sentia medo de sentir algo diferente, ser assim mais gente. Nunca acreditei em mudanças bruscas, mas aquela criança tocava minha alma fundo demais.

Suas mãos eram rápidas. Meus olhos só viam os rabiscos depois, já prontos, sem saber como um traço colou no outro.

Sua carência fazia com que eu dançasse ballet sem musica alguma. Forjávamos uma platéia, de olhos para a parede, com pontas fincadas no chão e um sorriso bobo na face. Agradecíamos, nós duas, como cúmplices de uma brincadeira que depois poderíamos repetir.

Tirava perguntas de não sei onde. Conhecia minha família de tanto questionar como eram. Pedia com os olhos vidrados para levar meu irmão em uma próxima visita, ao mesmo tempo fazia questão de dizer como meu novo corte de cabelo me caíra bem. Dizia tudo como se os seis anos dela tivessem sido privados de som e a língua não coubesse dentro da boca.

Um comentário:

Hugo Rodrigues disse...

caramba!
me amarrei demais na história
virei sem ler seus post´s!
;D

de niteroi tb?

beeijao!