domingo, 16 de março de 2008

Domava a saia contra o vento, protegia os cabelos da chuva. Esperava o ônibus por mais de meia hora, agitando o pé esquerdo. Brincava com o cabelo, enrolando-o entre os dedos.

Finalmente o ônibus chegou. Três números, um motorista servia de cobrador, que deixou dever dez centavos.

Sentou-se do lado da janela que não fechava, alguns pingos escureciam o azul da saia. Perdia o olhar nos postes que parados não seguiam o trajeto, ficando para trás. Fazia certo esforço para ler cartazes de procura por cachorros e meninas, promessas de todos os trabalhos para trazer o amor de volta.

Deixava sua cidadezinha para trás, rumo ao Rio de Janeiro, com prostitutas ociosas no Centro. Manhã abandonada aos mendigos, bêbados largados ao cheiro de urina. Não se assustou com a diferença, achava que Copacabana era muito distante.

Um ponto adiante, subiu um rapaz, descalço. Tinha pupilas gigantes. Sentou do seu lado com uma ameaça nos lábios cerrados, um olhar fixo em sua bolsa de fuxico.

Em sua ingenuidade tentou puxar um assunto. Obtinha respostas analfabetas, com “rs” no lugar do “l”.Ficaram ali conversando até chegar à Enseada. Nunca tinha tido uma conversa o rapaz mulato e magro. Desistiu do furto, levou apenas um sorriso, acenando abismado por trás do vidro.

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