quarta-feira, 19 de março de 2008

No elevador não tiveram tempo de se ajeitar. Ignoraram a câmera, o espelho. Beijos na intimidade de quatro cantos. Um porteiro assistindo tudo como se fosse um programa ao vivo; no fundo queria participar.

Não se ouvia som algum. Gemidos abafados pela vontade de preservar alguma sensação maior. Aos poucos aparecia um vizinho ou outro reclamando que o elevador estava com defeito. O senhor de bigode virava a tv, afirmando dar logo um jeito, depois tornava a sentar no seu trono privativo.

Com a demora no conserto, os moradores se rebelaram para ver em qual andar o bendito estava parado. O pequeno vidro deixava escapar os dois entregues um ao outro. Foram se aglomerando para ver um detalhe a mais. Na maioria eram homens, fantasiando estarem lá. Esqueceram o esforço de subir escada, um por um esticava o pescoço para ver melhor. Na semana seguinte, ninguém mais usava o elevador para outro fim, e também ninguém reclamava.

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