domingo, 20 de abril de 2008

Minha pele parecia carregar um cheiro intruso. Minha cabeça trazia recordações constantes que davam vontade de voltar a chorar.

Um só banho não deu conta, sentia-me imunda, imaginando aquelas mãos me alisando. Quase tirava a superfície da pele, de tanto esfregar, arrancando os dedos fora, lacerando os olhos famintos.

Sentia nojo ao lembrar. Nojo de mim mesma, por permitir que a cena acontecesse, apesar de tantos avisos.

De tanto medo, fiquei imóvel, sem saber se alguém escutaria minha voz, caso eu gritasse. Sem saber se me calaria quando me visse diante do espelho, com olhos de raiva ou pavor.

Fiquei imaginando o que sua força poderia me obrigar. Fui diminuindo, diminuindo, ficando cada vez mais vulnerável, mal cabia no vestido.

Ouvindo suas confissões, eu tinha vontade de lhe arrancar os olhos fora. Imaginei o que eles percorriam quando me ensinava um novo termo. Costuraria sua boca, ao saber que os elogios eram sujos de desejo, diferente da candura que tinha quando os pronunciava antes. Algemaria as mãos que um dia me tocaram as mãos, querendo acariciar meu seio.

Qualquer olhar me detinha depois do fato. Tinha a impressão que todos queriam me despir a roupa. Conservava os olhos baixos pra que ninguém notasse, só deixava transparecer as lagrimas que insistiam em deslizar sobre o rosto.

Um comentário:

danielvellososite disse...

não admire-se com o que esse mundo imundo e o que as pessoas dele podem te trazer. não generalize e sinta apenas algo que não dói tanto: pena.

cuide-se,

danielvelloso.blogger.com.br