quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Impulsionado pela violência explícita, Bruno não tinha medo de correr perigo. Foi ao cinema na estréia de Tropa de Elite e aplaudiu de pé seus tiros cinematográficos, sentia que alguma coisa mudara. Uma transformação ocular havia ocorrido.

Chegou ao trabalho falando grosso, Bruno mudara muito na última semana, não foi somente ele, o Rio e suas beldades davam lugar a chuva e as ameaças do governador de ser severo em todas as circunstâncias.

Bruno sentava para comer um sanduíche no minuto que sobrava para o almoço, tinha um olhar vazio, sem nenhuma expectativa visível, nem fome aparentava ter. Sua frieza assustava a garçonete que não mais abria o sorriso na hora da despedida.

Calado frente ao computador alternava os protocolos com o estudo dos calibres. Trocava de página quando alguém passava pela sua sala. Queria fazer uma surpresa! Ser herói a qualquer custo.

Achava que era uma ameaça. Disperso, quase atropelava as senhoras na faixa de pedestre. Egoísta, não dividia a cama com o cachorro. Era um louco disfarçado.

Depois de um mês de estudo, comprou uma pistola usada. Calibre 35/36, como nos antigos filmes. Saiu de casa com um estranho sorriso no rosto.

Ironicamente naquela manhã seu carro soltou fumaça por todos os lados. Não teve tempo de averiguar o problema, apenas sacou a arma e a colocou na pasta estufada de papéis. Foi até o ponto imaginando o atraso que cometeria.

Passado algum tempo o ônibus abriu suas portas barulhentas. Bruno foi sentar na beira do banco, egoísta como era querendo a solidão do assento vago. Um homem entrou pela porta da frente, sacou uma arma igual à de Bruno. Tamanha era a inveja dele, que resolveu tirar satisfação. O vendedor havia garantido que era modelo único. Levantou-se rispidamente, foi o tempo de sentir uma ardência nas costas.

Eram duas réplicas do seu precioso artefato. Um homem havia pulado a roleta, portando uma arma igual a do comparsa. Bruno agonizava de inveja, não era pelo sangue que corria. O tiro saiu pelo lugar errado, ele queria ter sido o primeiro, mataria todos os que subissem no ônibus com gosto. Com a fome e a vontade que não teve durante o almoço.

Não teve jeito! Bruno resolver ser um astro. Posou de inocente, fez cara de santo e foi se encolhendo no chão. Virou mocinho atirando em bandido na hora do jornal nacional. No fogo cruzado ninguém reconheceu os rostos então enterraram os corpos na mesma cova. Ninguém soube de quem era quem.

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