quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Fui para Bariloche porque o dólar estava desvalorizado. Reconheci alguns amigos no avião. Dormi. Desembarquei com todo mundo falando alto, dando dois beijos e dizendo até logo.

Os taxistas falavam entre dentes que havia carros lá fora por um preço camarada. Olhei o homem na cabine reprimindo-me com um olhar fulminante. Preferi usar o transporte que parecia mais legal.

No hotel uma confortável cama me esperava. Um quarto colorido com vista para a avenida que não parecia ter fim.

A cidade lembra um formigueiro. Todos vestindo seus sobretudos com faces rosadas de frio. Há muito estilo em aparentar ter uns vinte quilos a mais. Montada em botas de saltos altos, até em mim caiu bem.

Passeando encontrei alfajor made in Brasil, Caetano cantando no topo das paradas, pessoas de luvas manuseando suas capas, com bicicletas encostadas na mureta.

Na rua, pedaladas para espantar a temperatura baixa. Sorvetes nas vitrines, a língua passando e grudando nos lábios congelados.

Andei de esqui imaginando estar na Suíça, para tornar tudo mais fascinante. Amorteci a queda com os casacos que vestia. Caiam mais três comigo e toda vez que eu ia perguntar se estava tudo bem, rebuscava meu castelhano, mas obtinha a resposta em cru português. Devia ser espontâneo!

No jantar a lareira estalava, me aquecia com chocolates embebidos de licor. Não me restara escolha senão passar fome. Sem comer carne é difícil se alimentar quando só são servidos cervos e bifes sangrentos. Ficava só na entrada de legumes. O doce de leite era suficiente para enganar o vazio na barriga.

Encostava e embaçava o vidro, desenhando qualquer coisa sem motivo. Passava o dedo sobre a superfície gelada, observando o que não estava fosco do lado de fora. Alguém que não conseguia identificar o sexo me acenava do outro lado da calçada.

Ouvi um tango do saguão e fiquei admirando os passos ligeiros. Ensaiava com os olhos meu próprio espetáculo, prometi voltar e me inscrever em uma aula de dança.

Quis ir embora com um objeto que me armazenasse a neve e o aglomerado de gente na bagagem. Comprei uma lembrança para enfeitar a cabeceira; voltei para casa e descobri que era o mesmo do camelô ali da rua.

Nenhum comentário: