terça-feira, 6 de maio de 2008

Perto do dia das mães, permito-me um tempo para reflexão sobre o bem que faço a mim mesma sendo voluntária em um orfanato. Percebo que ao crescer, perdemos nossa essência, encontrando sempre um motivo para nos sentir inferiores por qualquer defeito que tenhamos. Lidar com crianças me fez rever o sentido simples do que é ser feliz

Não há um dia em que eu não pense nas minhas crianças. As chamo de “minhas” por realmente querer que fossem.

Nunca quis ser mãe de alguém que não proveio do meu útero, mas ser mãe dita algo muito mais abrangente do que gerar um feto. Ser mãe é fazer escolhas por alguém, torcendo para que isso seja realmente bom no futuro.

Quando eu vejo uma porção de crianças juntas, não penso que sofrem por falta de atenção, e sim, acredito que enxergam a solidão de outra forma.

Nos últimos dias venho tentando decifrar em que momento a felicidade deixa de ser infantil. Lembro-me de perder os dentes e querer mostrar à todos o buraco que ficou no mesmo lugar, fazia isso sorrindo, mostrando os dentes que restavam. Caso esse fato acontecesse hoje, não sei se teria coragem de sair de casa.

Alterno duas crianças no colo, finjo que não pesam tanto, para que caibam em meu afago. Minha menina brinca de pegar meu brinco e correr, pendurando a haste no orifício do ouvido externo. Da vez em que a perguntei o porquê de não usar brincos, ela me disse que sangraria e deveria doer, pensei em lhe dar brincos de pressão, mas as outras meninas ficariam com ciúmes.

Enquanto eu a perseguia, torcia para que ela não crescesse, para que nunca perdesse a coragem de encarar o mundo. Por um instante fiquei triste ao lembrar da minha citação sobre dentes, eu seria muito menos satisfeita se não pudesse ver aquela arcada, mas depois achei que na verdade o que me emocionava era o som da felicidade, pois, muitas vezes distante dela eu consegui ouvir o som da sua gargalhada, me inspirando. Queria não apenas lembrar.

Acordo com vontade de dar uma vida melhor à menina que me fez mais humana que me faz fingir ter uma pluma nos braços, apesar dela já estar crescendo. Temo que ela cresça e ache bobagem o que eu digo agora, mas preferiria que ela não crescesse, e achasse para sempre que comer cajá do pé é a oitava maravilha do mundo, que achasse que para usar brinco não precisa deixar cair uma única gota de sangue. Ela tem a solução simples para tudo o que eu já enxerguei e hoje apenas vejo.

2 comentários:

Helena disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luilton disse...

Primeiro deixa eu lhe dizer uma coisa: você escreve muito bem.

Não existe um momento em que a felicidade deixa de ser infantil. A felicidade é única, não tem dois tipos. Sentir-se feliz é igual para adultos, crianças ou velhinhos.

O que acontece é que ao 'crescermos' pensamos que devemos deixar de mostrar a ausência de um dente. Se formos nos perguntar o porquê disso, sai uma resposta meio insegura lá do fundo: É que as pessoas vão notar e caçoar.

Agora eu pergunto. Você caçoaria de alguém por isso? Tenho absoluta certeza que, se alguém com sua idade aperecesse exibindo a janelinha e feliz da vida, causaria a você uma certa inveja. :)

Enfim, não culpe a felicidade e a coloque limites. Nós somos como pensamos que somos.

E você pode mudar seu pensamento hoje e curtir mais ainda sua vida, que deve ser maravilhosa. Não tem como não ser maravilhosa ao redor de muitas crianças. Aliás... elas estão lhe ensinando como se faz todos os dias, basta você querer absorver.

Um beijo.