quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Empino-me na ponta dos dedos para enxergar além dos carros engarrafados. Os pedestres só possuem cabeças, troco as formas de seus corpos por um momento. Vejo o que não existe. Divirto-me com a criação, tudo fruto de uma mente inquieta, insatisfeita com a realidade.

Notava os olhos entrando pelo meu decote. Encobria uma parte, mostrando as unhas pintadas de vermelho para distraí-lo por um instante. Policiais me põem mais medo que bandido. Por um instante coloquei as mãos no quadril, deixando a vista livre. O que não fazemos por uma informação.

Difícil eleger minha reação ao ver suas mãos me puxando pelo braço. Era uma falsa blitz. Tudo parecia estranho, aquele homem robusto imitava os homens do filme. “Fanfarrão” ele dizia com vontade. Eu sentia tanta raiva pelo plágio que não percebia que ele estava me algemando no poste. Meu gesticular foi sendo amenizado pela força que tinha que fazer para mover os punhos. Minha vontade era de dizer que o José Padilha estava enganado ao inserir na boca do povo palavras vazias.

Gritava em bom português um socorro, depois ia alternando os idiomas. Ninguém se mexia, nem notava que a arma era de plástico.

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