sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Um menino subia a ladeira equilibrando compras em ambas as mãos. Acenava com uma piscadela gentil em troca de um sorriso.

Fitei suas mãos, alguns calos, uma unha escura. Parecia anêmico pela inteira brancura.

Voltou de casa com uma sacola vazia, começou a catar latas pela rua. Deu-me uma ainda cheia. Recusei por não saber a procedência, ele insistiu. Eu fingi que engoli, logo estendi a oferenda, ele bebeu um pouco. Mexia freneticamente o corpo sem que houvesse sincronia.

Largou as latas e pôs-se a correr ladeira abaixo. Catei latas por ele, esperando que ele voltasse, Em vão, brinquei de tiro ao alvo a noite inteira com um pedaço de ladrilho, arremessando nas latas empilhadas

Acertei uma menina linda que acabou me fazendo companhia. Ganhou-me diversas vezes. Sabotei sua vitória, dei-lhe a lata pela metade e disse que era para ela beber. Pôs-se a correr, então fiquei sozinho, contando os fragmentos de ladrilho.

Nenhum comentário: