sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Fiquei feliz por você ter vindo. Só lhe via pela janela, passeando com seu labrador cor de creme. Você parecia pensar alto enquanto chutava as pedras portuguesas soltas na calçada.

Tinha dias em que eu tinha vontade de pular lá da janela para você me acudir com a mesma delicadeza com que dava bom dia aos senhores que dividiam a rua contigo. Minha tolice romântica eu escondia atrás da porta do apartamento.

Uma vez eu joguei um lírio, na esperança de você entender que era eu quem estava lá em cima. Combinei a cor das pétalas com a cor da sua blusa. Ela foi caindo, rodando leve como um vestido em dança. Tocou seu rosto e quase entrou pelo bolso. Foi um jeito sutil de explicar que existia vida atrás das paredes do muro, por trás da cortina translúcida.

Notou o contorno do corpo no tecido branco. Deve ter achado graça em ver as bromélias com a ponta das folhas comidas. Deve ter se perguntado: - De onde surgiu o lírio?

Um punhado de outras flores ainda adornava minhas mãos. Debrucei-me no parapeito, acenando e pedindo desculpas. Pedi que subisse para tomar um café, dizendo que se não houvesse tempo, mancharia a blusa rosada, pois havia tingido os lírios com anilina. Foi assim que colori a sala com a surpresa da sua visita.

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