sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Não tinha planos de encarar ninguém, mas logo me vi escancarando os dentes sem cerimônia. Era estúpido o que eu dizia. Reparei estar falando de política, sem convicção, sem conhecer que partido defendia. Convenceria qualquer um que me ouvisse, tamanho era meu entusiasmo!

Gostei do jeito despretensioso que lançava um elogio ou outro, imaginando não saber onde encaixá-los. Eu não acreditava em nada. Não queria acreditar, cultivando o hábito da complicação. Em silêncio gostaria de pedir para ouvir de novo um predicado com gênero trocado.

Continuava meu discurso, crendo que ele não entendia nada do que eu dizia. Seu riso soava consentido, um riso conveniente preenchendo os lábios sem diligência.

Estranhamente eu não conseguia parar de falar. Eu, que normalmente tenho a mania de arquitetar a fala para não ter que repeti-la em tom mais alto, calculando a exatidão. Com certeza posso afirmar que não lembro de um terço do que eu havia dito! Ele também não devia ter escutado com tanta atenção.

A tarde havia sido ótima! Disse tudo como se fosse incontestável. Ninguém havia me condenado por isso.

Esgotei o dia gostando de corrigir as poucas falas que proferia, sem conjugar direito os verbos; gostando da idéia de adivinhar o que suas mãos queriam explicar quando quase batiam asas. Fui embora sem achar explicação para tanto impulso.

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