terça-feira, 28 de agosto de 2007

Por muito pouco não vi o eclipse lunar. Acordei de madrugada para desvendar a completa escuridão. Fiquei vagando pela sala desafiando o sono.

As nuvens atrapalharam a vista, só fui notar isso quando me vi amarfanhada no sofá. A dor nas costas eu não conseguia disfarçar. Sem pantufas ou havaianas, segui para a cozinha para fazer um café e improvisar umas torradas. Alonguei-me no tapete fazendo pose de yoga, estalando as vértebras atrevidamente, sem indicação ortopédica.

A garoa me animava a ir à aula. Nada distrairia meus cálculos. Nenhuma maritaca se aventurando pela janela com seus berros escalafobéticos. Concentrava-me em cantar meia dúzia de refrões entre um número complexo e uma equação reduzida. Estava satisfeita com a certeza que sempre existiu; dois mais dois ainda são quatro, é uma das poucas coisas que não discuto.

Não demorou muito e o sinal tocou pela última vez. Podia ouvir a polifonia gástrica. Acanhava-me com a possibilidade de alguém ouvir a orquestra faminta no meu ventre, apertando o passo para cessar logo toda a fome.

Nenhum comentário: