sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Sou um sujeito extremamente desajeitado. Se ao menos tivesse bom senso, evitaria fazer coisas mais arriscadas como escalar as Agulhas Negras, andar de monociclo sobre uma corda bamba ou trocar lâmpadas.

Contudo troquei o meu bom senso faz um tempo por um pedal de distorção pra guitarra. Pareceu ser uma pechincha naquela época.

O fato de eu ser desajeitado, portanto, não me impediu de tentar me tornar um grande escultor. Veja bem: não teria sido tão trágico se eu quisesse ser um escultor mediano ou razoável. Não. Eu queria ser um dos bons. Queria ser lembrado pelos próximos milênios.

E esse papo todo de escolher as novas sete maravilhas do mundo me deixou bastante empolgado. Se eu conseguisse refazer uma nova versão de Chichén Itzá, uma coisa mais moderna e atual, talvez ainda desse tempo de me inscrever no concurso. Isso seria o suficiente para eu finalmente ter fama e reconhecimento mundial. Talvez até conseguisse um desconto na temakeria do Leblon por conta disso.

Não sabia exatamente por onde começar. Parece que o Chichén Itzá original foi todo feito de pedra ou coisa assim. Pedra é um negócio pesado, bastante pesado pra carregar. E nunca levei jeito com argila. Achei, por algum motivo estranho, que clipes de papel poderiam ser um bom material e comprei todos que encontrei nas papelarias do Centro.

Primeiro, redesenhei Chichén Itzá no papel mesmo, com confortáveis escadas rolantes, um lindo letreiro em neon no topo e um simpático capacho de "Bem-Vindo", além de um fosso cheio de crocodilos famintos em volta.

Parecia bacana. Só faltava encontrar um lugar espaçoso o suficiente para começar a construção. Fui a um estacionamento bastante grande na Lapa. Tinha que ser rápido, porque já era quase o horário de pico e os carros poderiam chegar a qualquer momento. Na pressa, acho que fiz a coisa mal-feita e não saiu bem como havia desenhado.

Pra dizer a verdade, a escultura final lembrava um tanto a estátua do Miéle. O povo, revoltado com as vagas que eu estava ocupando no estacionamento, derrubou a escultura. Mesmo assim, tentei inscrever no concurso das sete maravilhas. Eles alegaram que não havia nada além de um amontoado de clipes de papel no lugar.

Tentei argumentar, dizendo que não eram clipes de papel, eram ruínas. Falei que Machu Picchu também era só um monte de ruínas e ainda assim estava concorrendo. Não adiantou.

Uma pena. Acho que vou tentar tudo de novo, só que dessa vez vou reconstruir o Colosso de Rodes. Talvez coloque um grande sanduíche na mão dele ou um fosso cheio de crocodilos famintos em volta.

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