Ganhei o domingo visitando as crianças.
Um ato beneficente. Eu mesma era a contemplada. Talvez elas nem lembrem meu nome ou esqueçam meu rosto. Não importa, nada substituiria a cena da porta do salão se abrindo e todas as crianças vindo em nossa direção. Achei que minha preferida não iria me reconhecer, porém veio me abraçando a perna com entusiasmo querendo logo que eu a pegasse no colo e fossemos brincar.
Sentia a magia lúdica agitando minhas pernas. Meu sorriso era inevitável. Envergonhava-me por brincar só com ela, então juntei mais dois para rodar também.
O lanche foi logo servido. Eu tratava de distribuir os sucos nas pequenas mesinhas. Botava as mãozinhas para serem lavadas
Queria saber o que se passa naquelas pequenas cabeças raspadas ou cheias de lacinhos. Seus desenhos seriam formas simples de se desvendar. Decifrava a ausência de cores, os traços assimétricos. Não percebia grandes temores. Em minha audácia usava uma psicologia barata para entender os lápis
Animava-me a vontade de dançar, pular e comer. Tudo ao mesmo tempo. Sorte das crianças que esquecem com rapidez a negação que a sociedade pronuncia. E eu achando triste não ter couve no almoço ou suco de melancia. Sou tão tola! Sorte que tenho a infância ao meu alcance.
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