quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Resolvi libertá-la de uma história antidiluviana. Ainda tinha cheiro de naftalina, um cabelo permanente. Foi difícil mudar suas gírias, tirar suas plataformas, seus pingentes de paz e amor.

Dei um jeito de vesti-la de amarelo. Um amarelo florescente da moda. Um verde como limão maduro.Havia ficado linda!Lembrava-me uma atriz antiga, com aparência esnobe. Tinha uma trilha sonora para cada romance.

Apagava o luzir de suas estrelas na hora de dormir. Não podia mais tocá-la para não lhe fazer sombra. Seu brilho ofuscava meus planos.

Botei-a em um papel de figurante, contra a regra obstante. Roubava a cena mesmo assim.

Os holofotes miravam-na com destreza. Do alto de seus saltos, tentava logo formular um espetáculo instantâneo, mas caía no erro da concordância.

Dei um show de improviso. Borrifei água no liso da escova dos cabelos. Errei a mira e taquei em sua face o puro líquido. Vi suas rugas surgirem, desfazendo-se o sorriso paralítico de botox. Foi assim que a matei. Fico pensando se foi o flúor, o cloro radioativo da água, ou mesmo a raiva do ciúme.

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